Vamos continuar com o nosso blog!

Pois é:

"A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?"

Perguntamos com o mestre Drummond: E agora, o que fazer com este blog depois do casamento passado, abençoado, lavrado em cartório e totalmente consumado?

Resolvemos continuar aproveitando o espaço para partilhar com os amigos, que testemunharam e celebraram a nossa tão inesperada união, as andanças desta vida de casados...
Serão alegrias, inquietações, felicidades, angústias, momentos de paz, lamúrias... enfim: pequenas expressões do cotidiano de um casal apaixonado...

Nacionalidade: brasileiro(a)...



(Por Mariana Nascimento)


"Ah!... A gravidez é algo mágico..." (suspiro e sorriso encantador) - a cena é familiar?
Mas o que fazer quando nos deparamos com problemas absurdos que você nunca imaginou ter - muito menos quando estivesse grávida?!

Vou contar a minha saga:

Tenho a assistência do plano de saúde da empresa em que meu pai trabalhava desde que nasci, e descobri (só depois que estava grávida) que o tal plano de saúde, contrariando o que diz o seu regulamento, não cobre NADA relacionado à obstetrícia.

É claro que, no começo da gravidez, ainda acreditei ser possível contar com a justiça ou com o direito do consumidor para resolver o meu problema...
Primeira desilusão: os advogados têm má vontade, a justiça é extremamente lenta e, quatro meses depois, continuo me perguntando por que se formam tantos advogados por ano se, no geral, nem um deles parece acreditar no que faz....

Paralelamente, estava em busca de uma solução através de outro plano de saúde...
Segunda constatação: os planos de saúde que dominam tudo relacionado a esse segmento no Brasil na verdade não poderiam se importar menos com a saúde e o bem-estar das pessoas. Os períodos de carência são uma vergonha e ainda acham que estão te fazendo um favor por deixar você pagar meses de altas taxas sem ususfruir do que realmente precisa....

Diante dessa situação, eu, que NUNCA fui atendida em hospital público (devo confessar que MORRO DE MEDO deles!), tive que aceitar o meu cruel destino e fui procurar o sistema público de saúde para realizar o pré-natal e me preparar para o parto.
Terceira injeção de realidade assombrosa: se é quase impossível conseguir alguma informação sobre o funcionamento e procedimentos básicos do serviço público, imaginem o resto...
Faz mais de um mês que estou na internet quase todos os dias tentando descobrir onde uma mãe que mora no meu bairro pode fazer o Pré-natal. Os sites do governo são completamente inúteis, os telefones só te botam em contato com vídeo-locadora, loja de cimento, açougue, casa de família... tudo menos hospital ("Hospital?? Xiii não é daqui não"); e quando, finalmente, o número informado correspode miraculosamente ao hospital, só há desinformação... ("Você poderia me informar o que é necessário levar para fazer o pré-natal aí?", "Onde você mora?", "XYZlandópolis", "Ihhh, XYZlandópolis não atende aqui não...", "Então onde atende?!", "Aí eu não sei...." - ou: "Gostaria de saber o que é preciso para fazer o pré-natal aí?", "É gravidez de alto risco?", "Não", "Aqui é só gravidez de alto risco...", "E quem tem gravidez de baixo risco vai pra onde?", "Não sei não...")

Como os meios de comunicação não estavam fazendo efeito (o pensamento que comanda o sistema público só pode ser o seguinte: quem não tem plano de saúde também não tem telefone, internet, celular, e, é claro, tem tempo de sobra para ficar se deslocando atraás de informação, já que não trabalha...), resolvemos ir até o Hospital pessoalmente.
Resultado: quatro balcões de informação, muitas escadas e diferentes corredores depois, a única coisa de realmente relevante que descobri é que ginecologia "não tem nada a ver com gravidez", são " duas coisas totalmente diferentes"!
(me desculpa, senhora atendente do Hospital Universitário Pedro Ernesto, pela minha ignorância... Depois de longos anos acompanhando a saúde do meu útero nos exames ginecológicos, depois de anos lendo no livrinho do plano de saúde "ginecologia/obstetrícia", agradeço imensamente por ter me livrado da minha ignorância com a sua sabedoria, bondade e boa-vontade infinitas...)

Obs: tive que consultar um médico particular para descobrir que no sistema público de saúde o pré-natal de baixo risco é realizado no posto de saúde mais perto de você.

Mas o melhor ainda está por vir:
Muito inspirada pela minha nova descoberta científica e animada para passar a frequentar o sistema público de saúde, decidi ir direto a uma boa maternidade particular, visitar as instalações e indagar sobre preços e procedimentos.
Logo na chegada, dois seguraças de terno avaliam e analisam quem entra e sai e um chofer à caráter aguarda os motoristas. A porta de vidro, com abertura por ativação automática com os pés, te leva para um lugar que nem de longe se parece com um hospital.
Somente após passar por três recepcionistas e por uma sala de espera decorada por especialistas em design de interiores e paisagismo (onde era possível assistir à Globo em televisores LCD slim de muitas polegadas), consegui achar no último corredor, no fundo do hospital, reto à direita depois à esquerda, a sala com a placa "faturamento".
É esta salINHA (onde nem te convidam para sentar) o único local onde é possível passar a você, cidadão infame, não pagador de um plano de saúde, que almeja (Oh! que absurdo!) pagar (apenas à vista e com dinheiro) um procedimento médico, o valor da internação para o parto.

-Por favor, eu gostaria de informações sobre o parto particular?
- XXXXXX reais 2 noites com acompanhante.
(fico, então, um pouco confusa: não parece informação de hotel?)
- Mas esse preço é só para o parto?
- Não... (responde a moça já impaciente) esse preço é para normal, YYYYY é para cesárea e a equipe médica você paga por fora.
(hã??!! o preço é diferenciado por tipo de procedimento mas ele não cobre o procedimento?)
- E vocês tem uma equipe médica aqui? Podem me informar o valor dela?
-Não... aqui não tem equipe médica, apenas um médico de plantão.
- e se ele precisar realizar o parto, sabe quanto ele cobra?
- Se precisar fazer isso (notem que um médico em um hospital só realizaria um procedimento médico em última instância!), ele convoca uma equipe médica
- E você não sabe quem são e nem quanto cobram, não é?
- Não sei.
(Imaginem a seguinte situação: você vai para o hospital passando mal, não consegue falar com o seu médico - o que, convenhamos, está longe de ser impossível de acontecer -, é atendida pelo plantonista de figuração e tem que ficar negociando o preço após cada ligação que ele faz - é melhor ir treinar no Saara!)
- E a UTI Neo-natal? Quanto é a diária?
- Não sei... Ela é administrada por uma empresa terceirizada e nós não temos essa informação
(Ãhhhhh?!!!)
- A UTI pelo menos é dentro do hospital?
- Claro, é no quarto andar!
- E lá não há ninguém que poderia me dar essa informação?
- Não.
- Pode me dar algum número de telefone onde seja possível conseguir saber isso?
- Sim, um minuto, por favor.
Muitos papéis e minutos depois, a futura-operadora-de-telemarketing me entrega o número e pergunta:
- O neném é pra quando?
- Novembro.
-Ah, nessa época não deve ser mais esse preço...
(por quê? É alta temporada?!?!)
- Obrigada. (maldita educação...)


É por isso, meus amigos e minhas amigas, que, faltando apenas três dias para a abertura da Copa do Mundo de Futebol, tenho uma terrível confissão a fazer:
pela primeira vez em toda a minha vida, eu (considerada por muitos - de modo exagerado, é claro - como uma fanática pelo meu clube e por esse esporte) NÃO VOU TORCER PELO BRASIL.
Quero o direito de, no auge do meu egoísmo, desejar que todos os brasileiros não se orgulhem do seu país, que sintam pelo menos um pouco da indignação e da revolta que eu estou sentindo.
Quem sabe se fôssemos capazes de deixar de lado esse orgulho maquiado e mascarado por tantas coisas vazias e sem sentido, talvez conseguíssemos ver a realidade escondida por trás da mera vaidade nacionalista. Quem sabe se cada um sentisse um pouco mais de indignação não seria possível mudar alguma coisa... qualquer coisa!


Ah! Não posso terminar antes de contar a nossa solução:
matricular o meu marido (o mais rápido possível!) num curso de técnico em enfermagem à distância; convencer o meu primo-estudante-de-medicina a fazer o meu parto em casa; rezar (se é que Deus existe) para que tudo dê certo, e guardar todo dinheiro do parto para subornar o escrivão para escrever "Islandês(a)" na certidão de nascimento do(a) meu(minha) filho(a)....

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